quarta-feira, 7 de outubro de 2009

meus quadrados de suspiro

Era exatamente aquele o lugar que buscara a vida toda. A exata pulsação. A medida certa. O cheiro. A textura. A delicadeza e a intensidade. No espaço milimetrado da mão em meu cabelo e da minha cabeça em seu ombro. Porque todas as grandes sensações são simples. E os pequenos detalhes mais simples ainda. E a receita dessa paz é de tanta simplicidade, de tamanha sutileza e de escandalosa, incontida e plena felicidade. É surreal e matematicamente impossível, mas cabe o infinito entre o nós dos nossos dedos. Porque ele cheira a mar e, eu me faço onda sob seu desígnio.
Vocês trazem alegria para esca casa.

sábado, 19 de setembro de 2009

A letra "A" tem teu nome

Não precisamos de apresentações, permissões e paciência. Não nos é permitido cobrança, esperança e crença alguma. Temos o infinito dentro dos olhos e um relógio quebrado que pulsa numa velocidade incrível, mas que não deixa o tempo passar.

Não me culpo e jamais farei isso. Sou dele. E quando assim sou ele me faz linda, musa, eterna. Ele vem e desfaz meus limites, desata os nós e ficamos nós dois juntos. Unidos por um elo tão perene e tenaz que nem eu sei o quanto. Porque fomos moldados como um par. Peças completas de encaixe perfeito. Somos água e moinho. Por mais que eu siga mundo afora ou que ele também seja movido por vento. Eu me perco e ele se deixa levar; mas juntos, ah, juntos nós cantamos. E é essa música, nossa, infinita e inaudível. Que me mantém atada a uma liberdade tão grande, tão insubmissa e desafiadora que a Ausência morre de medo do meu riso. E eu posso descer essas escadas empunhando a mais pura felicidade plantada nessa história.

Sendo dele sou Bouguereau, Tadema, Waterhouse e Modigliani. Sou Vinícius, Ferreira Gullar e Chico. E só meu cabelo molhado, meus óculos e essas unhas recém vermelhas entendem porque eu me mantenho cheirando a jardim em manhã de chuva. Agora já não luto. Aceito esses pedacinhos de paraíso com resignação e sem nenhum por quê. É nesse amor que eu guardo as ilusões que me permito. É desse amor que tiro a certeza de todos os outros amores que conheço e conhecerei um dia. Eu sei que ele nunca virá em um cavalo branco, não preciso. Eu sou meu final feliz.

Vocês trazem alegria para esta casa.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

é de "bom dia" que faço minha madrugada

Sou cheiro de fevereiro de dentro pra fora. Embaixo da pele. Entre as camadas de um ser que sou eu, mas não conheço.

Porque é matemático, físico, cientificamente exato. É calculadamente surreal. Eu sou toda labirintos e portas. Ele é meu fio e chaves infinitas. Sinteticidade: o meu jardim secreto. É a suavidade nos detalhes, a sutileza das impossibilidades e a intensidade na vontade que me encantam incomensuravelmente.

Eu, completamente entregue, apaixonadamente submissa. Eu: dele. Por todo o tempo do mundo, ou pelos cinco minutos que equivalem a isso. E é de eternidade efêmera que construo essa equação, que não vale nada, mas tende ao infinito.




Vocês trazem alegria para esta casa.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

"Princesa, olhos d'água"

Aquela moça ali sentada, balançando os pés e com o cabelo misturado ao vento me disse que ficaria de vez se eu a fizesse livre. Disse que faria laços na brisa e se prenderia a mim se eu lhe tirasse os grilhões. Ela disse que daria ao meu mundo quantas cores eu quisesse e que os cheiros e sons seriam suaves e enternecedores. Me disse que ela teria o sabor que melhor me coubesse e que seria tão minha que eu não me reconheceria distante dela. Mas eu tenho medo. Sempre penso que ela tenta me encantar para fugir. Como uma sereia ou outro ser mágico.

Assim eu fico sem ela enquanto ela me tem. Fui preso pelo meu medo. E morro de amor e saudade daquela que eu sempre vejo, que me habita e que eu nunca tive.

Vocês trazem alegria para esta casa.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

"Você me abre seus braços e a gente faz um país"

Os ipês floriram.
A primavera chega já.
E eu suspirando pelo azul de setembro.
Porque todo esse calor espalhado no mundo sou eu.


Vocês trazem alegria para esta casa.

domingo, 23 de agosto de 2009

36 certinho

Não tem nome, nem razão ou justificativa, nem motivo ou fundamento, não tem tempo nem limite, não acaba nunca porque não começou. Simples, livre, suave, intenso. Sem necessidade e por vontade demais. Todo amor do mundo, toda a urgência do mundo. Um caminhão desgovernado ladeira abaixo. A única certeza é a inconstância. Mais riso que suspiro. E é tão bom, tão doce, tão surreal. Num segundo impressionismo e no seguinte fauvismo em profusão. Eu, completamente entregue. Dele. A justa medida da cessão. Ele não sabe o quanto. Ainda bem. Voltei a ser dança. E ele é meu palco. Meu altar sem me prender.


Vocês trazem alegria para esta casa.

sábado, 15 de agosto de 2009

Porque sou ufanista do bem, apaixonada por minha terra ou simplesmente: Feliz aniversário, Teresina

Teresina fica bonita para chover e namora Timon. Teresina é mocinha, dessas que vão ao Centro no sábado pela manhã com vestido de algodão. Desses vestidos que dançam com o vento fazendo a moça de salão. Desses salões que enchem o Centro e que estão cheios de homens ansiosos por moças, vestidos e ventos.

Teresina espera o sol baixar e vai para a porta da rua. Sentada numa cadeira de espaguete pintas as unhas dos pés enquanto imagina o colorido da vida alheia. Cordial e solícita sempre responde com aceno de cabeça e um murmúrio às mãos erguidas e aos “boas tardes” que recebe. Levanta de sua cadeira e responde com civilidade e preguiça sempre que lhe perguntam por este ou aquele caminho. Teresina não tem pressa porque é moça. E moças gostam de achar bonito a vida passando. E é linda a vida que passa no reflexo dos rios quando o Sol cansa de fazer calor e começa a ajeitar a cama.

Teresina tem o céu mais azul do mundo. Feito do azul mais bonito do mundo. Mais azul que os olhos de minha mãe. Tão azul e tão lindo que dói. Dói, encanta e dá medo. Em setembro a beleza é tamanha que o suspiro e a vista marejada acalmam o medo de perder-se em arrebatamento àquela imensidão azul e perfeita. De tanto azul, o Sol, antes de deitar, estende uma colcha púrpura no céu para convencer a Lua de que a noite vai ser boa. A Lua aceita o convite e vai misturando suas tintas àquele espetáculo surreal. Tem dias que Teresina, de tanto querer praia, faz uma no céu. Uma praia de cabeça para baixo feita de nuvens que parecem fugitivas da carrocinha de algodão-doce. Fico imaginando quantas garrafas Teresina trocou para fazer uma praia como a que se vê.

Teresina reclama de calor a vida toda. Todo ano diz que vai morrer entre setembro e novembro, mas basta uma chuva, uma intempérie que derrube os termômetros aos gélidos 29 graus, para Teresina vestir todas as mangas compridas do armário e reclamar dos condicionadores de ar. Teresina muda de cor infinitas vezes. Em janeiro veste-se de ano novo e quase tudo é branco. Até a névoa do início da manhã. Em maio veste-se de vento e as pipas ocupam o céu antes das andorinhas chegarem. Em setembro é amarela de calor e ipê. Teresina tem cheiro de caju e manga pela manhã e à noite cheira a jasmin-laranjeira. Tem gosto de suco, pão de queijo, panelada, sarapatel e bolo frito. Teresina dorme depois do almoço e gosta da noite.

Teresina trabalha muito. Estuda sempre que pode e quando não tem tempo de viver sua vida acha graça na felicidade dos outros e chora as perdas mesmo que não sejam suas. Reza sempre e as terças vai à novena. Teresina tem pena de cachorro de rua e enche os restaurantes de gatos. Oferece uma parte de tudo o que come e morre de ódio se lhe pedem o último pedaço.

Teresina canta bem e a música embala nosso balé cotidiano. Porque é de dança, beleza, arte e calor que esse povo vive de fé e ciranda. Esperando descer no rio uma oportunidade melhor e mais brisa.



Vocês trazem alegria para esta casa.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O último dia de 1999

Piscou os olhos e limpou a vista. A causa da pouca visão escorreu-lhe pelo queixo. Uma linha úmida mostrava o caminho percorrido em seu rosto. A mão tentava apagar os rastros e corrigir a maquiagem. Piscou os olhos mais infinitas vezes. Para espantar a lembrança. Para agarrar-se a parcimônia. Ergueu o rosto e impôs-se retidão, na coluna e nos dias vindouros. Porque seria impassível, imutável, irredutível, inflexível e inabalável. Empunharia segurança e faria suas parcas certezas de escudo. Tinha três espinhos e o mundo inteiro para vencer.


Vocês trazem alegria para esta casa.