segunda-feira, 29 de junho de 2009

05/08

É por ele o suspiro quebrado, a mão do queixo e o coração aos pulos. É dele a saudade, o cheiro que me cerca e a mão no meu cabelo. Sou dele. Desde o número do meu telefone ao baú de cartas. Nunca amanhecemos juntos, mas é o som do seu riso que guia a minha paz. Porque sou mutável, translúcida, líquida, absurdamente inconstante e ainda assim, por tudo e depois de tudo, eu sei: por mais afluentes que eu tenha é nele que vou desaguar.
vocês trazem alegria para esta casa.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Multicor

Perdeu o brinco, a paciência e o medo. Depois disso não tinha o que perder. Portanto não o fez. Nem perdeu nem tentou. Já não dormia, nem deitava. Passava horas esperando um vento novo, mas a janela fechada mantinha a barreira entre o canto do vento lá fora e ela sentada num canto qualquer. Era ridículo e triste vê-la esmolando amor. Sempre tivera tanto que distribuiu sem pena. Atirava amor pra todos os lados. Acabou ferida por um caco de amor em ricochete. Não morreu. Era um amorzinho pequeno. Miúdo e afiado. Deixou uma cicatriz entre os seios. Era como se tivesse um bloco de gelo em baixo daquela linha branca. Não tinha fotos nem esperança. Não sabia desamar e não havia espaço para outro amor.
Vocês trazem alegria para esta casa.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A Roda e a Estrela

Não era princesa nem boneca. O oposto da Barbie. Não era alta nem magra. Nem tinha carrão, casa com cara de castelo, nem um super namorado gostoso. Não era mulherão. Não usava salto ou maquiagem. Nem roupas de grife ou perfumes caros. Não freqüentava salão de beleza nem pintava as unhas de vermelho. Também não tinha unhas compridas e bem feitas. Roeu as unhas a vida toda. Tinha as mãos pequenas e os dedos curtos. Mal cobriam o braço de um baixo. Quis tocar baixo ou bateria. Nunca aprendeu. Como não aprendeu inúmeras outras coisas. Não aprendeu a desamar nem a ter parcimônia. Tudo era hipérbole. Se ela fosse um eufemismo seria: “hipérbole”. Se fosse uma hipérbole seria: ”super nova”. Construiu um mundo de amor. Amou tanto que encheu o mundo com amor e não sobrou espaço pra mais nada. Nem pra criatura amada. Nem pro caminho de volta. Por isso aprendeu a voar. Dizem que foi vista misturada a nuvens cor-de-rosa, dessas que parecem areia, quase uma praia de cabeça pra baixo pendurada no céu. Aposto que a essa hora já escreveu poesia na nuvem/areia, banhou os pés no céu azul de Teresina e armou uma rede entre as estrelas. Posso até vê-la: livre, os cabelos destrançados e os pés em ponta, pronta pra dançar...

Vocês trazem alegria para esta casa.