Teresina fica bonita para chover e namora Timon. Teresina é mocinha, dessas que vão ao Centro no sábado pela manhã com vestido de algodão. Desses vestidos que dançam com o vento fazendo a moça de salão. Desses salões que enchem o Centro e que estão cheios de homens ansiosos por moças, vestidos e ventos.
Teresina espera o sol baixar e vai para a porta da rua. Sentada numa cadeira de espaguete pintas as unhas dos pés enquanto imagina o colorido da vida alheia. Cordial e solícita sempre responde com aceno de cabeça e um murmúrio às mãos erguidas e aos “boas tardes” que recebe. Levanta de sua cadeira e responde com civilidade e preguiça sempre que lhe perguntam por este ou aquele caminho. Teresina não tem pressa porque é moça. E moças gostam de achar bonito a vida passando. E é linda a vida que passa no reflexo dos rios quando o Sol cansa de fazer calor e começa a ajeitar a cama.
Teresina tem o céu mais azul do mundo. Feito do azul mais bonito do mundo. Mais azul que os olhos de minha mãe. Tão azul e tão lindo que dói. Dói, encanta e dá medo. Em setembro a beleza é tamanha que o suspiro e a vista marejada acalmam o medo de perder-se em arrebatamento àquela imensidão azul e perfeita. De tanto azul, o Sol, antes de deitar, estende uma colcha púrpura no céu para convencer a Lua de que a noite vai ser boa. A Lua aceita o convite e vai misturando suas tintas àquele espetáculo surreal. Tem dias que Teresina, de tanto querer praia, faz uma no céu. Uma praia de cabeça para baixo feita de nuvens que parecem fugitivas da carrocinha de algodão-doce. Fico imaginando quantas garrafas Teresina trocou para fazer uma praia como a que se vê.
Teresina reclama de calor a vida toda. Todo ano diz que vai morrer entre setembro e novembro, mas basta uma chuva, uma intempérie que derrube os termômetros aos gélidos 29 graus, para Teresina vestir todas as mangas compridas do armário e reclamar dos condicionadores de ar. Teresina muda de cor infinitas vezes. Em janeiro veste-se de ano novo e quase tudo é branco. Até a névoa do início da manhã. Em maio veste-se de vento e as pipas ocupam o céu antes das andorinhas chegarem. Em setembro é amarela de calor e ipê. Teresina tem cheiro de caju e manga pela manhã e à noite cheira a jasmin-laranjeira. Tem gosto de suco, pão de queijo, panelada, sarapatel e bolo frito. Teresina dorme depois do almoço e gosta da noite.
Teresina trabalha muito. Estuda sempre que pode e quando não tem tempo de viver sua vida acha graça na felicidade dos outros e chora as perdas mesmo que não sejam suas. Reza sempre e as terças vai à novena. Teresina tem pena de cachorro de rua e enche os restaurantes de gatos. Oferece uma parte de tudo o que come e morre de ódio se lhe pedem o último pedaço.
Teresina canta bem e a música embala nosso balé cotidiano. Porque é de dança, beleza, arte e calor que esse povo vive de fé e ciranda. Esperando descer no rio uma oportunidade melhor e mais brisa.
Vocês trazem alegria para esta casa.
4 comentários:
O Nobel é teu. É só teu.
Sempre soube disso.
Parabéns às duas.
Amo. E ela é minha também!
Esplêndido!
Sempre que venho aqui me faltam palavras... Teresina e eu agradecemos.
nossa..sem comentários.PERFEITO.
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